Os dados obtidos do ensaio pressiométrico de Ménard precisam de correcção devido às perdas de volume e pressão. Este processo é constituído essencialmente por três tipos de correcções: pressiómétrica, hidrostática e volumétrica. Após as correcções, através dos valores de pressão-volume obtidos traça-se a curva pressiométrica e determinam-se por via gráfica as seguintes grandezas características:
- Pressão inicial e volume inicial (P0, V0)
- Pressão de Fluência e Volume de Fluência (PF, VF)
- Pressão Limite e Volume Limite (PL, VL)
- Módulo Pressiométrico de Ménard (EPMT)
Pressão Inicial (P0) e Volume Inicial (V0)
A pressão inicial corresponde à pressão necessária para a sonda entrar em contacto com as paredes do furo, não devendo ser confundida com a tensão inicial horizontal. O ponto de coordenadas P0, V0 indica o início de um traço rectilíneo (fase de comportamento pseudo-elástico) da curva pressiométrica (Cestari,1990) (Figura 1).
Figura 1 – P0 e V0 indicam o início do comportamento pseudo-elástico
Pressão de Fluência (PF) e Volume de Fluência (VF)
A pressão de fluência corresponde ao ponto final da fase pseudo-elástica na curva pressiométrica, ou seja, ao início de rotura do solo (Figura 2). O valor de PF é retirado da curva de fluência que é obtida no gráfico de variação de volume ocorrido entre as leituras de 30s e 60s versus a pressão aplicada (Figura 3).
Entre P0 e PF, encontra-se a fase pseudo-elástica. Isto deve-se ao facto de, nesta fase, as deformações serem quase totalmente recuperáveis, entre estes valores, as variações de volume ao longo de cada patamar são quase nulas (entre 0 e 1). Obtém-se uma deformação constante a uma carga constante.
Figura 2 – PF e VF indicam o início do comportamento plástico.
Figura 3 – Curva de fluência para determinar P0 e PF.
Pressão Limite (PL) e Volume Limite (VL)
A pressão limite é definida como a pressão alcançada para conseguir a expansão infinita de um cilindro. Como esta não pode ser alcançada durante o ensaio, é definida como a pressão alcançada quando o volume da cavidade tiver duas vezes o seu tamanho inicial (?V/V=1) (Briaud, 1992) (Figura 4). No entanto, frequentemente o valor desta pressão limite não é atingido, sendo a sua determinação realizada através de extrapolação (Bosch et al., 1997).
Numa cavidade que se expande, a pressão limite corresponde a uma deformação infinita (rotura), que pode ser determinada directamente através curva pressiométrica corrigida, como a abcissa da assimptota da curva na fase plástica (Figura 5).
Figura 4 – PL e VL na curva pressiométrica.
Figura 5 – Curva pressiométrica corrigida.
Quando necessário utiliza-se um gráfico em escala semi-logarítmica, relacionando o logaritmo do volume e a pressão. Com pelo menos três pontos da fase plástica traça-se uma recta, cujo prolongamento até à ordenada, equivale ao dobro do volume inicial da célula de medida, indicando o valor da pressão limite.
Segundo Cestari (1990), considerando uma escala logarítmica a expansão da cavidade é dada por:
loge = ?V/V
Onde:
?V= incremento de volume da cavidade por efeito da expansão
- Vs = volume inicial da sonda (à pressão atmosférica);
- V0= volume necessário para expandir a sonda até as paredes do furo.
V= volume da cavidade (?V+ (V0+Vi))
A pressão limite corresponde na curva pressiométrica ao valor onde ?V/V=1 e na prática é habitualmente calculada através de dois métodos:
- Método de Ménard
Por convenção a pressão limite (PL) é aquela que corresponde ao volume limite (VL) a partir do qual se atinge o dobro do volume inicial. Assim o volume limite é expresso por:
VL=Vs+ 2V0
- Método da recta
?V/V = 1
Traçando um gráfico com os valores corrigidos de pressão e volumes expressos em escala logarítmica (P x loge (?V/V) ) obtém-se uma curva pressiométrica com um traço inicial curvilíneo e uma assímptota que tende para o valor loge (?V/V)=1, ficando assim a conhecer-se a pressão limite.
A pressão limite efectiva (PL') é um parâmetro relativo à resistência do solo e é definida, tendo em conta a tensão horizontal de repouso do solo e a pressão limite, segundo a equação seguinte:
PL'= PL - ?h0
Módulo Pressiométrico de Ménard (EPMT)
O módulo pressiométrico (EPMT) traduz a deformabilidade do solo quando este é sujeito a carregamento. Caracteriza a fase pseudo-elástica do ensaio e é essencial para o cálculo de assentamentos em fundações.
Calcula-se através de valores da fase elástica da curva tensão-deformação corrigida e é dado pela equação:
E = 2 (1 + ?) Vm ((PF - P0)/(VF - V0))
Onde:
? = Coeficiente de Poisson
Vm= volume médio da cavidade
P0 e PF = pressão medida no início e final da fase elástica respectivamente
V0 e VF= volume medido no início e final da fase elástica respectivamente
Vs = volume da célula central de medida
Ménard (1975) recomenda que seja utilizado sempre um valor constante para o coeficiente de Poisson (?) igual a 0,33 para todos os tipos de solo no cálculo do módulo pressiométrico. Segundo Briaud (1992), para argilas este valor não é recomendado pois estas têm um comportamento não drenado. Adopta-se neste caso um valor de 0,50.
Segundo Rodrigues (2003), o valor do módulo pressiométrico é afectado por uma série de efeitos que condicionam a sua utilização quando comparados com o valor do módulo de Young (E), utilizado normalmente no dimensionamento de fundações, dos quais se podem destacar os seguintes:
O módulo Pressiométrico de Ménard (EPMT) é obtido num contexto de deformações variadas que podem englobar zonas fortemente plastificadas. É calculado em extensão, admitindo valores equivalentes em estados de tensão-compressão e extensão, o que normalmente não acontece na natureza. Por sua vez o valor é fortemente influenciado pelos inevitáveis efeitos perturbadores pela forma como é instalada a sonda na cavidade.
A existência destes efeitos impede que se proceda à avaliação directa de parâmetros mecânicos dos solos ensaiados, sendo normal a utilização de vias semi-empíricas de abordagem para determinação desses parâmetros. Amar et al. (1991) referem que o módulo de Ménard é afectado pela perturbação inerente ao processo de abertura da cavidade e pela resposta inelástica durante a expansão da cavidade, pelo que este parâmetro não deve ser considerado uma propriedade fundamental do solo, nem deverá ser utilizado directamente em soluções elásticas.
A Tabela 1 mostra os valores típicos de EPMT e da sua relação com o PL para vários tipos de solo:
Tabela 1 - Valores tipicos de EPMT e PL para diferentes tipos de solo