Parâmetros Geotécnicos

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Através do ensaio pressiométrico de Ménard (PMT) podem avaliar-se os seguintes parâmetros geotécnicos relacionados com a resistência e deformabilidade dos solos:
  •  Tensão horizontal de repouso (σh0)
  •  Módulo de Distorção (G)
  •  Módulo de Deformabilidade (E) e Módulo confinado (Eoed)
  •  Coesão não drenada (Cu)
  •  Ângulo de atrito interno (Φ) e dilatância (ψ)

 

Tensão horizontal de repousoh0)

O ensaio pressiométrico de Ménard tem dificuldades na obtenção da tensão horizontal in situ. A sua identificação requer interpretação de dados da curva pressiométrica a partir de critérios ainda não validados (Schnaid et al., 1995). A tensão horizontal de repouso deve ser feita com precaução, tendo em conta que este é um dos parâmetros geotécnicos mais subjectivos que podem ser obtidos a partir do ensaio pressiométrico. Essa subjectividade ocorre devido ao grau de perturbação nas paredes da cavidade durante a perfuração, à diferença entre o diâmetro do furo e o da sonda, ao alívio de tensões logo após a abertura da cavidade e ao insuficiente número de pontos na fase inicial da curva (Furtado, 1998). Em geral, a perturbação resultante dos efeitos da instalação da sonda aumenta com o aumento da rigidez e granulometria dos solos, pelo que a eficiência da avaliação da tensão horizontal é menor nos solos rijos do que nos solos lodosos, e pode tornar-se inconsistente nos solos saturados (Clarke, 1996; Gambin, 1980).

Sandroni e Brandt (1983) afirmam que o ensaio pressiométrico é um instrumento viável para a obtenção de tensões horizontais in situ, de características tensão-deformação e da resistência à distorção, enquanto Schnaid et al. (1995) e Cestari (1990) consideram que a dedução deste parâmetro através do PMT é pouco fiável.

Módulo de distorção (G)

O módulo de distorção de uma argila é uma medida do seu comportamento elástico a partir do qual é estimado o módulo de deformabilidade.

Segundo Cestari (1990), o módulo de deformabilidade pode ser estimado numa fase inicial da curva pressão-deformação através de uma tangente de declive Gi, no entanto os melhores resultados são obtidos através do cálculo, numa fase de comportamento perfeitamente elástico, num ciclo de carga/descarga, através da tangente de declive Gur (Figura 1). Pode haver erros na medição das deformações devido à deformação que ocorre previamente, aquando a realização do furo. Assim, numa fase de cálculo posterior garante-se que essa perturbação inicial não é afectada.

Imagem_8.1_-_Mdulo_tangente_inicial_da_curva_presso-expanso
Figura 1 - Módulo tangente inicial da curva pressão/expansão (Mair e Wood, 1987).

O módulo de distorção pressiométrico (G) é também obtido através de uma variação de volume específica segundo a expressão proposta por Lamé (1952):


G = V. (ΔP/∆V)

Onde:

  ∆V= variação de volume na fase elástica devido ao aumento de pressão ΔP

   Vm= volume inicial da sonda acrescido do volume médio expandido

Tal como o módulo pressiométrico de Ménard (EPMT), o módulo de distorção (G) é determinado com valores de pressão e volume obtidos durante a fase elástica da curva pressiométrica corrigida.

A relação entre os dois é dada pela equação:

G= EPMT / (2 (1 + ν ))


Como Ménard sugere o coeficiente de Poisson ν = 0,33 a expressão pode ser reescrita:

G = EPMT / 2,66


Módulo de deformabilidade (E) e Módulo Confinado (Eoed)

O módulo de Young ou de elasticidade (E) é calculado através da expressão:


E = EPMT / αp

 

Onde αp é um parâmetro que é determinado pela Tabela 1.

 

Tabela 1 - Parâmetro αp, (adaptado de Clarke, 1996)

Tabela_8.1
O módulo pressiométrico pode ainda ser relacionado com o módulo confinado Eoed :

Eoed = EPMT


Onde α é um factor de correlacção que depende do tipo de solo, conforme proposto Ménard & Rousseau (1962) na Tabela 2.

 

Tabela 2 – Parâmetro α para solos normalmente consolidados (Ménard & Rousseau 1962).

 Tabela_8.2_-_Parmetro__para_solos_normalmente_consolidados_


Coesão não drenada (Cu)

O valor da coesão não drenada de uma argila não é um valor intrínseco a um dado terreno - depende das condições do meio em que se encontra. Assim, os valores de resistência medidos com o ensaio pressiométrico devem ser comparados com os valores de laboratório em iguais condições de deformação (Cestari, 1990).

Considerando uma curva de tensão-deformação onde se ilustra o comportamento da coesão não drenada (Figura 2), pode ser diferenciada uma fase em que a coesão tem um valor máximo (pico), quando a deformação ainda não atingiu valores definitivos, e uma fase em que a coesão passou a ter um valor residual, onde as deformações já afectaram a força de ligação entre partículas.

Imagem_8.2_-_Comportamento_da_coeso_no_drenada_com_a_deformao
Figura 2 - Comportamento da coesão não drenada com a deformação (Mair e Wood, 1987)

 

Uma estimativa do valor da coesão não drenada através de um ensaio PMT pode ser feita tendo em conta o método Gibson & Anderson (1961), onde se considera o declive da recta obtida pelo gráfico pressão versus deformação volumétrica em escala logarítmica. No cálculo da coesão não drenada através do declive da curva P x Loge (∆V/V) a deformação volumétrica é dada por:

∆V / V = (Vm - V0) / (Vs + V0 + Vm)

Onde:

  Vs = volume inicial da sonda

  V0= Volume no inicio da fase elástica

  Vm= volume medido na unidade de controlo

O declive da recta que melhor aproxima os pontos dá o valor da coesão não drenada.

Através da curva observam-se fases com resistências menores a grandes deformações sendo caracterizadas por um valor máximo (pico) e um valor mínimo (residual). A Figura 3 evidencia a obtenção dos valores de Cu de pico e Cu residual.

Imagem_8.3_-_Extenso_volumtrica
Figura 3 - Cálculo da coesão não drenada através da curva P x Ln (?V / V) (Mair e Wood, 1987)

 

Amar e Jézequel (1972) apresentam uma proposta alternativa para determinação deste parâmetro em solos argilosos baseada na pressão limite e tensão horizontal de repouso conforme na Tabela 3.

 

Tabela 3 - Relação entre PL e Cu em argilas (Amar & Jézéquel 1972)

 
Tabela_8.3_-_Relao_entre_PL_e_Cu_em_argilas_

Mais recentemente, em 1992, Briaud sugere a obtenção do parâmetro de coesão não drenada (Cu) através da pressão limite líquida: pL+= p- p0

C= p+ B


Onde o parâmetro B varia entre 5,6 e 7,4.

 

Ângulo de atrito interno (Φ) e dilatância (ψ)

Clarke (1996) indica o modelo desenvolvido por Hughes et al. (1977), com a utilização dos factores de correcção propostos por Fahey e Randolph (1984), que admite um comportamento elástico até à rotura, a qual se processa com ângulos de atrito e dilatância constantes.

O seu cálculo é efectuado através de um gráfico que relaciona o logaritmo da pressão efectiva com a expansão da cavidade, e através do seu declive (s) vem (Figura 4):

sen(Φ) = s / ( 1 + (s - 1) * senΦcv)

sen(ψ) = s + (s - 1) * senΦcv

Onde:

  Φ = ângulo de atrito interno (Tabela 4)

  Ψ = ângulo de dilatância

  Φcv = ângulo de atrito a volume constante, conforme o tipo de solo (Tabela 4)

  s = declive da curva (Ln (P - u0)) / (Ln εc)


Imagem_8.4
Figura 4 -  Procedimento de avaliação de ?' (Fukagawa et al., 1988).

Tabela 4 - Ângulos de atrito de pico e volume constante de solos granulares

Tabela_8.4_-_ngulos_de_atrito_de_pico_e_volume_constante_de_solos_granulares

A expansão da cavidade cilíndrica da sonda no furo e respectiva deformação associada, pode ser conhecida através do cálculo do volume do cilindro (Figura 5). Sabendo o volume (V) correspondente a uma dada deformação e o comprimento da sonda (h) pode assim obter-se o raio para o qual se deu a expansão conhecendo a relação matemática:

V = πr2 h

Imagem_8.5_-_Representao_da_expanso_da_cavidade_cilndrica
Figura 5 - Representação da expansão da cavidade cilíndrica

 

 

Assim temos que:

r√ ( (Vs + V0) / (L0 * ?))

Onde:

  ri = raio do cilindro no volume inicial.

  Vs = volume inicial da sonda

  V= Volume no inicio da fase elástica

  L= Comprimento da sonda


Através da relação anterior pode ser obtido o raio da cavidade a cada patamar de pressão aplicado ao longo da execução do ensaio:


r = √( (Vs + V60) / (L0 * ?) )


Chegando finalmente à expressão da expansão da cavidade (εc) associado a cada patamar de tensão:


εc = (r - ri) / ri


O cálculo do ângulo de atrito e de dilatância implica o traçado de um gráfico relacionando o logaritmo da expansão da cavidade descrita e o logaritmo da pressão efectiva, sendo esta última a uma relação entre a pressão total e a pressão neutra:

P' = P - μ0

μ= (Z - NF) * γw

Onde:

  γw = Peso volúmico da água

  μ0= pressão neutra

  Z (m) = profundidade do ensaio

  NF= nível freático

  P'= Pressão Efectiva 

 

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